(*) Vicente Loureiro
É assim que pelo menos 100 mil trabalhadores da Baixada perdem dias por ano em seus deslocamentos cotidianos entre casa e trabalho — descontado, é claro, o mês de férias. Há municípios como Queimados, Nova Iguaçu, Belford Roxo e Magé onde mais de 10% das pessoas ocupadas convivem com esse desperdício. E isso considerando apenas a parcela da população que gasta mais de duas horas diárias para chegar ao trabalho.
O tempo médio consumido pelos trabalhadores das cidades da Baixada é o maior do país, segundo dados do Censo do IBGE, que pela primeira vez levantou as condições de mobilidade do brasileiro. Dos seis municípios com as piores condições, cinco estão na Baixada. E, entre os 20 com mais de 100 mil habitantes nas últimas colocações do levantamento, 11 pertencem à Região Metropolitana do Rio. A vida por aqui, especialmente na Baixada, se passa sobre rodas — e consome tempo demais.
Se computarmos também as pessoas que gastam entre uma e duas horas no trajeto casa-trabalho, o número ultrapassa 600 mil. É o equivalente ao total de passageiros transportados diariamente pelo Metrô do Rio — ou o dobro do que faz a SuperVia. No caso dessa periferia oeste da metrópole, não se pode atribuir o tempo excessivo de deslocamento à opção pelo transporte individual: a população ainda prefere o transporte público, em média, duas vezes mais do que no restante do país.

Como o trem e o metrô atendem apenas 7,5% dos trabalhadores da região, contra 35,4% que usam ônibus, o tempo médio gasto faz da Baixada o lugar com o custo social do transporte mais elevado do país. A solução passa, necessariamente, pela integração funcional entre os municípios — incluindo a capital — e o governo do Estado. Melhorar o transporte público na região deve ser, pelas dimensões apontadas no Censo, uma prioridade nacional.


Além dessa inexplicável dificuldade de articulação entre os três níveis de governo para permitir aos trabalhadores da Baixada menos dias de viagem perdidos, é preciso atenção ao crescimento do uso do automóvel e, principalmente, das motos nos deslocamentos casa-trabalho. O que já não está bom pode ainda piorar. O tempo do povo da Baixada precisa deixar de não ter valor.
(*) Vicente de Paula Loureiro é arquiteto e urbanista, formado pela Faculdade Silva e Souza, e doutorando em urbanismo pela Universidade de Lisboa. Foi secretário de Estado de Assuntos Fundiários e Assentamentos Humanos; Subsecretário de Estado de Desenvolvimento da Baixada; Subsecretário estadual de Projetos de Urbanismo Regional e Metropolitano, e Diretor-executivo da Câmara Metropolitana de Integração Governamental