A Imprensa e o Regime Democrático

(*) Jorge Gama

A imprensa, seja ela de esquerda, de centro ou de direita, é parte essencial do funcionamento democrático. O pluralismo constitui um bem coletivo de enorme valor, pois garante à sociedade a possibilidade de acompanhar os fatos políticos, econômicos e sociais sob diferentes ângulos. Esse balanceamento fortalece o debate político, assegurando que o direito de opinião – consagrado na Constituição – se materializando como instrumento de análise, crítica e construção de cidadania.

Durante o regime militar, vivenciamos um período de forte cerceamento à liberdade de informar. Nesse contexto, jornais alternativos como Pasquim, Movimento e Opinião abriram espaço democrático para jornalistas independentes, que mesmo sob censura resistiram e ganharam credibilidade, sobretudo entre os mais jovens. Outros, como A Voz Operária e Hora do Povo, de orientação claramente partidária, sofreram ainda maior repressão. Ao mesmo tempo, a grande imprensa, submetida a severas restrições, muitas vezes teve edições recolhidas nas bancas e respondia de forma criativa, chegando a publicar receitas de bolo no lugar de matérias censuradas – uma forma silenciosa de denúncia.

No presente, a grande imprensa convive com uma dubiedade: ao se autodeclarar “opinião pública”, por vezes confunde opinião com informação, entregando ao leitor análises tendenciosas que se apresentam como fatos. A censura e a desinformação produzem danos semelhantes à sociedade, pois manipulam a percepção do cidadão. Hoje, com o surgimento das redes sociais, esse jornalismo aparelhado tornou-se mais viável e sujeito à rejeição.

É verdade que as redes sociais também abriram espaço para a proliferação de fake news. No entanto, não se pode negar que elas romperam com o monopólio de narrativas antes dominado por uma imprensa majoritariamente alinhada à esquerda. A partir desse cenário, o pensamento conservador e de direita conquistou voz do debate político nacional, antes praticamente restrito.

Essa transformação exige compreensão. A democracia ganhou novos canais de expressão e o cidadão novas ferramentas para melhor analisar os acontecimentos. Com isso, todos saímos fortalecidos – sobretudo a própria democracia, que se alimenta da pluralidade e da diversidade de vozes.

(*) Jorge Gama é Advogado e ex-Deputado Federal