
(*) Jorge Gama
No passado, os fatos, por mais graves que fossem — principalmente os gerados na esfera da economia — eram cuidadosamente guardados, ou melhor, escondidos, para evitar ruídos no mercado e abalo no sistema. O cidadão comum era ignorado. O Governo alardeava que as cadernetas de poupança, especialmente as da Caixa Econômica, estavam protegidas de qualquer tipo de falha ou turbulência na economia. Era a forma de atrair o pequeno investidor para um produto de baixa rentabilidade, porém protegido. Embora o montante aplicado por milhões de brasileiros viesse a gerar bilhões.
Os diversos planos econômicos, aliados a informações privilegiadas vazadas seletivamente para atender a grupos econômicos que se protegiam mutuamente, faziam com que as grandes negociatas quase não deixassem digitais. Com o tempo, essa prática, pelos seus volumes e pela constância, chamou a atenção. Já não era mais possível sustentar aquela instabilidade sistêmica.
O caso do Banco Marka, de Salvatore Cacciola, furou a bolha, abalando o mercado financeiro, cuja credibilidade bateu no teto. À beira de uma quebradeira geral, foi instituído o Fundo Garantidor, cujas regras e limites de garantia viriam a oferecer ao mercado financeiro uma rede de proteção. Como é da natureza do sistema capitalista, sua credibilidade foi reabilitada. O Banco Central, ainda dirigido pelo Governo, alardeou essas novas providências. A CVM, o CADE e a Receita Federal ditavam regramentos e ajustavam o sistema para a recuperação de sua credibilidade.
Os casos de fraude financeira e fiscal desapareceram durante um bom tempo. Quando surgia um ou outro, era tratado rapidamente e cuidadosamente classificado como caso isolado. O tempo passou com relativa calmaria; nem mesmo as evidências eram percebidas. A mídia ligada à economia, devidamente adestrada, mantinha um cenário de tranquilidade.
Como esse tipo de escândalo é quase sempre urdido no mais absoluto silêncio, quando chega ao domínio público já é uma metástase sem cura. Os últimos grandes escândalos — das Lojas Americanas e agora do Banco Master — já eram bem visíveis, assim como a fraude contra os aposentados de todo o Brasil. É claro que, no lugar do Fundo Garantidor, havia uma blindagem garantidora que agora já está exposta.
(*) Jorge Gama é advogado