Black Friday: o período de consumo que virou terreno fértil para golpistas

(*) Leonardo Mendonça,

Há alguns anos, quando se aproxima a Black Friday, o comércio brasileiro comemora o aumento do faturamento e o consumidor se anima com a possibilidade de pagar menos. Em 2025, a projeção é de que a data movimente mais de R$ 13,34 bilhões, um crescimento expressivo. Mas enquanto os números sobem, cresce também um fenômeno paralelo: a profissionalização dos golpes digitais.

O apelo psicológico da “oferta imperdível” reduz o cuidado do consumidor e abre espaço para fraudes cada vez mais elaboradas — desde sites falsos até links preparados para roubar informações pessoais e financeiras. Não se trata mais de amadores improvisando armadilhas. Falamos de grupos especializados, que utilizam engenharia social e cópias perfeitas de grandes marcas para capturar dados, clonar cartões e aplicar golpes em larga escala.

Entre os crimes mais comuns está a chamada maquiagem de preços. Algumas empresas elevam o valor de produtos dias antes apenas para reduzi-lo na Black Friday, simulando descontos inexistentes. Além de frustrar o consumidor, essa prática configura publicidade enganosa, punida pelo Código de Defesa do Consumidor. Outra fraude frequente é a criação de páginas falsas que imitam sites oficiais, oferecendo produtos como celulares, notebooks e eletrodomésticos com valores irreais. Neste caso, o objetivo não é vender, mas colher dados.

O consumidor, porém, não está totalmente vulnerável. Há medidas simples que reduzem drasticamente o risco de cair em armadilhas. Verificar se o site começa com “https://”, confirmar o CNPJ da loja, evitar boletos de estabelecimentos desconhecidos, desconfiar de links enviados por mensagem e analisar preços “milagrosos” já cria uma barreira importante contra fraudes.

E quando o golpe acontece? O caminho é direto: registrar boletim de ocorrência, comunicar imediatamente o banco e/ou a operadora do cartão. Em seguida, reunir prints, anúncios e comprovantes, além de e acionar órgãos como o Procon ou a Secretaria de Defesa do Consumidor. Em muitos casos, é possível recuperar valores ou responsabilizar civil e criminalmente os envolvidos.

Enquanto celebramos os R$ 13 bilhões que devem circular este ano, precisamos encarar outro número: o dos consumidores que perdem dinheiro para criminosos digitais que se escondem atrás de ofertas irresistíveis. A Black Friday pode, e deve ser, um momento positivo para o mercado. Mas só será segura se cada consumidor adotar uma postura crítica. Desconto real existe. Milagre, não.

(*) Leonardo Mendonça é advogado criminalista