Por Geraldo Perelo
Neste 30 de abril, cerca de 4 milhões de moradores da região, composta por 13 municípios na periferia do Rio de Janeiro, celebra o Dia da Baixada Fluminense. Mais do que uma simples data comemorativa, a ocasião representa o reconhecimento da identidade cultural, das lutas sociais e do potencial transformador de uma das regiões mais vibrantes e resilientes do Brasil.
A criação do Dia da Baixada remonta ao início dos anos 2000, quando movimentos sociais, organizações culturais e lideranças comunitárias pressionaram por mais visibilidade para a região. O Dia da Baixada Fluminense foi criado pela Lei Estadual 3.822, em maio de 2002. A data é uma homenagem à primeira ferrovia do Brasil, ligando a Estação de Guia de Pacobaíba (Estação Mauá) até Magé. A Estrada de Ferro, construída por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, foi inaugurada em 30 de abril de 1854. A partir da ferrovia vieram os avanços na região, a produção agrícola e o início do desenvolvimento sócioeconômico e cultural.
Mas a história da Baixada é muito mais antiga. Desde o período colonial, a região foi palco de grandes engenhos de açúcar e, mais tarde, de movimentos de resistência, como os quilombos. Com o passar dos séculos, a Baixada se transformou, acompanhando a expansão urbana do Rio de Janeiro, se tornando abrigo de uma população diversa, marcada pela migração interna e pela formação de comunidades fortes e atuantes.
A Baixada Fluminense é muitas vezes retratada pela mídia apenas por seus desafios — violência, falta de infraestrutura e desigualdade social. No entanto, a região também é berço de movimentos culturais potentes, como o funk, o samba e o hip-hop; abriga áreas de preservação ambiental como a Serra de Madureira, o Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu, a Reserva Biológica do Tinguá, a Serra dos Órgão, e é referência em manifestações religiosas, da umbanda às igrejas evangélicas.
Além disso, os municípios da Baixada (entre eles Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Belford Roxo, Nilópolis, Mesquita, entre outros) possuem um dinamismo econômico crescente, com comércio forte, polos industriais e investimentos em educação e saúde, ainda que os desafios sejam inúmeros.
Todos os anos, no final de abril, eventos culturais, feiras de artesanato, encontros literários, shows musicais e debates acadêmicos tomam conta da Baixada para celebrar a data. Iniciativas como o Circuito Cultural da Baixada e projetos de memória histórica reforçam o orgulho de pertencer a essa região.
Mais do que comemorar, o Dia da Baixada é também um momento de reflexão: sobre as políticas públicas necessárias para garantir o desenvolvimento pleno da região, sobre o combate ao preconceito territorial e sobre a necessidade de fortalecer a autoestima de seus moradores.
O Dia da Baixada Fluminense é, sobretudo, uma celebração da esperança. A esperança de ver uma região que, apesar das adversidades, continua pulsando cultura, inovação, trabalho e sonhos. Uma Baixada que se reinventa diariamente, carregando no peito a coragem de quem nunca se rende.
Que o 30 de abril sirva, todos os anos, para lembrar que a Baixada Fluminense não é apenas “subúrbio” ou “periferia” — é centro de histórias, de talentos e de uma brasilidade profunda e necessária.