Idosos & cidades

(*) Vicente Loureiro

O rápido envelhecimento da população, a chamada transição demográfica, levará as cidades a incorporar, com urgência, essa variável na condução das políticas públicas sob sua responsabilidade. O fenômeno já produz impactos e, segundo projeções oficiais, tende a se agravar. Em 15 anos, teremos o dobro de idosos contabilizados em 2022: serão cerca de 60 milhões de pessoas, mais de um quarto de toda a população.

Ao mesmo tempo em que a pirâmide etária emagrece na base — com a redução da população de 0 a 14 anos — ela engorda no topo, onde estão os 60+. No Rio de Janeiro já há mais idosos do que crianças. Trata-se de um dos estados mais envelhecidos da federação: um em cada cinco habitantes tem 60 anos ou mais. A quantidade de idosos dobrou de 2000 para cá, com expressivo predomínio de mulheres sobre homens, representando cerca de 60% do total.

O Censo de 2022 revela ainda que aproximadamente dois terços dos 60+ são responsáveis pelos domicílios em que vivem. Metade deles mora sozinha, apenas com o cônjuge ou com outra pessoa da mesma geração, sem a presença de crianças. Esse grupo ocupa, portanto, 40% dos domicílios unipessoais, que já ultrapassam 15% das moradias habitadas no país.

No estado do Rio de Janeiro a situação é ainda mais acentuada: um em cada cinco domicílios é unipessoal. Considerando a tendência — também apontada pelo Censo — de crescimento das moradias chefiadas por idosos e a mudança no perfil e no tamanho médio das famílias ao longo deste século, não é difícil prever uma redução nas dimensões das novas habitações, acompanhada de adaptações funcionais diante da crescente presença da população idosa nas cidades.

Mesmo com sinais de estagnação nas taxas de crescimento demográfico e o encolhimento da família, o número de domicílios no Brasil continua aumentando, impulsionado pela ampliação da expectativa de vida e pelo crescimento de idosos vivendo sozinhos. O país saltou de 44,8 milhões de moradias em 2000 para 72 milhões em 2022. Apenas entre 2010 e 2022, mais de 15 milhões de novas habitações foram construídas, trazendo um novo desafio para as cidades: aumento da demanda por moradia sem expansão populacional.

Como os idosos, em sua maioria, estão alijados do crédito imobiliário — embora representem uma parcela expressiva da demanda por novas moradias — serão necessárias medidas que lhes garantam acesso à habitação. Entre elas: reduzir as locações de curta temporada, oferecer aluguel social voltado para o idoso autônomo, incentivar empreendimentos imobiliários amigáveis aos 60+, próximos ao transporte público e aos serviços. Providências assim tornarão as cidades mais inclusivas e melhor preparadas para os desafios dos novos tempos.

(*) Vicente de Paula Loureiro é arquiteto e urbanista, formado pela Faculdade Silva e Souza, e doutorando em urbanismo pela Universidade de Lisboa. Foi secretário de Estado de Assuntos Fundiários e Assentamentos Humanos; Subsecretário de Estado de Desenvolvimento da Baixada; Subsecretário estadual de Projetos de Urbanismo Regional e Metropolitano, e Diretor-executivo da Câmara Metropolitana de Integração Governamental