Moradores de rua ganham carinho, afeto e amor na Casa de Passagem da Prefeitura de Nilópolis
O aniversário de 2 anos da Casa de Passagem foi festejada com velas, bolos, salgadinhos e muita solidariedade
Por Geraldo Perelo
A Prefeitura de Nilópolis celebrou nesta quinta-feira (15), com direito a bolo, doces e salgadinhos, o segundo ano de funcionamento da Casa de Passagem, importante iniciativa do governo municipal voltada ao acolhimento e reintegração de pessoas em situação de rua.
Localizada na Avenida Castelo Branco, próximo ao Centro do município, o espaço tem oferecido apoio a adultos do sexo masculino que por diferentes motivos se viram obrigados a viver nas calçadas, sob marquises ou ao relento, muitas vezes em situação de vulnerabilidade agravada pelo frio, a fome, a violência, uso de drogas, conflitos familiares e a invisibilidade social.
“O nosso foco é a reinserção familiar, a volta deles ao seio social. É um trabalho continuado, de costura, que não para nunca”, explica a secretária municipal de Desenvolvimento Social, Everline de Lima, que tem formação MBA em Gestão Pública e curso de Controle Social e Cidadania.
A secretária lembra que a criação da Casa de Passagem é a consolidação de uma das promessas da campanha do Prefeito Abraãozinho e que virou projeto de governo. “Como também era o nosso desejo, o governo nos deu todas as condições de moldarmos o projeto piloto às necessidades que o problema exige”, contou a secretária.

Os moradores de rua recebem acompanhamento médico, de psicólogos, assistentes sociais, atividades de reinserção e orientação profissional
Com 20 vagas disponibilizadas, a Casa de Passagem acolhe atualmente 15 moradores de rua. Diretora da instituição, Vanessa da Matta lembra que a clientela do projeto é formada por pessoas que enfrentam rupturas profundas em suas vidas. São histórias de homens que deixaram suas casas, abandonaram a família e perderam vínculos afetivos, encontrando nas ruas um lugar marcado pela solidão, violência e abandono.
— Todos nós, aqui, somos uma só família. Mas, é um processo que torcemos para que seja passageiro, porque o objetivo do nosso trabalho é ver um desfecho feliz para todos eles que, como todos nós, almejam uma vida com dignidade e felicidade no coração — diz, emocionada.
Levantamento da Prefeitura contabiliza cerca de 80 pessoas perambulando pelas ruas de Nilópolis. Nem todos são genuinamente nilopolitanos. “Tem aqueles que estão só de passagem; vêm ao nosso município em busca de oportunidades, ajuda, de algo que lhe garanta a sobrevivência do dia a dia, como é o caso de catadores de lixo reciclável”, diz a diretora.
Acolhimento com respeito e carinho

Na Casa de Passagem, os clientes fazem sua higiene pessoal, jantam, dormem e tomam café da manhã
Pelo menos, duas vezes na semana, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social coloca equipes do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) nas ruas, em busca de pessoas em situação de risco social.
— Os nossos técnicos fazem a abordagem, mas nem todos eles aceitam a nossa oferta de acolhimento; acham que vão ficar presos. Outros, resistem por conta das regras que a Casa de Passagem adota, como não usar droga ou trazer lixo reciclado. Eles têm o livre-arbítrio, garantido pela Constituição Federal, de permanecerem nas ruas, se assim quiserem — deixa claro a diretora da instituição.
— A nossa Casa de Passagem disponibiliza 20 vagas. Aqui, todos são acolhidos com carinho e muito respeito, fazem sua higiene pessoal, jantam, dormem e tomam o café da manhã —, explica.
Ao longo desses dois anos de funcionamento, a Casa de Passagem tem oferecido mais do que abrigo. Com acompanhamento médico, de psicólogos, assistentes sociais, atividades de reinserção e orientação profissional, o espaço funciona como um ponto de recomeço para aqueles que desejam reconstruir suas trajetórias.
Quem deseja voltar a estudar, é encaminhado para o EJA (Educação de Jovens e Adultos), modalidade de ensino da Educação Básica que oferece a possibilidade de jovens e adultos retomarem ou concluírem os estudos. Já, através do Núcleo de Apoio ao Cidadão, os moradores de rua são inscritos no Programa CadÚnico do Governo Federal e encaminhados também à Secretaria de Trabalho, Emprego e Desenvolvimento Econômico, onde se candidatam a uma vaga.
Na quinta-feira, noite da celebração de aniversário da instituição, os moradores de ruas tomar a vacina contra a Influenza.
— Tivemos um morador de rua que voltou a estudar, concluiu o Ensino Fundamental e conseguiu também voltar ao mercado de trabalho. O nosso objetivo principal, portanto, é promover dignidade, restabelecer laços e abrir caminhos para que essas pessoas retomem suas vidas com autonomia —, diz Everline de Lima. “Cada história que passa por aqui é única, marcada por desafios e dores. Trabalhamos diuturnamente para mostrar a eles que ainda há esperança, que é possível recomeçar —, revela.
A secretária Everline de Lima conta com orgulho “a conquista” da Casa de Passagem, que tem conseguido ressocializar alguns de seus clientes. Um deles, identificado como Daniel, passou a vender doce. Com o dinheiro, comprou um celular, com o qual montar um currículo e acabou ganhando emprego em um grande supermercado do Rio de Janeiro.
— Depois disso, ele alugou uma casa, trouxe a família do Nordeste. Outro dia, me enviou mensagem informando que conseguiu também comprar uma moto que usa para fazer entrega à noite. Hoje, graças a Deus, ele vive com dignidade e cidadania —, festeja.
“Meu sonho é voltar para minha esposa”

Leandro, entre a secretária Everline e a diretora da instituição, Vanessa: “o meu sonho é voltar para minha esposa e meu filho”
Nilopolitano, nascido e criado na rua Soares Neiva, o pintor de obras Leandro de Araújo da Silva, 43 anos, é um dos moradores da Casa de Passagem. Até dois meses atrás, ele morava, havia dois oito anos, com a mulher do segundo casamento, o filho de dois anos, e o sogro, com quem se desentendeu.
— A gente se dava bem, até que houve apenas uma discussão boba, sem agressões, sem nada mais. No entanto, ele surtou, começou a passar mal e faleceu. Por isso, tive que sair de casa — conta o morador de rua mais novo da Casa de Passagem.
Sem poder morar com a mãe, também por conta de divergências com o padrasto, só restou a Leandro buscar abrigo ao relento, embaixo de uma marquise, atrás da UPA de Edson Passos.
— O meu projeto de vida é sair daqui o mais rápido possível. Sou pintor, faço textura, desenho —, conta o Leandro, que está com um dos braços enfaixados por conta da queda de uma laje, onde estava trabalhando.
— Assim que eu melhorar, vou voltar a trabalhar, alugar uma casa e procurar o melhor para mim. O meu sonho é voltar para a companhia da minha esposa e do meu filho — projeta o morador de rua, que estudou até a 7ª série do Ensino Fundamental. Hoje, já recebe o Bolso Família de R$ 600, que usa para ajudar nas despesas do filho pequeno.
Para a secretária Everline de Lima, a “moral da história” é não desistir dos sonhos. “O ser humano tem jeito, tem solução. Eu entendo que a educação cuida da mente; a saúde cuida do corpo e a assistência social cuida da alma. A gente penetra na alma para dar dignidade às pessoas para que elas sejam ressocializadas e retornem ao seio de suas famílias”, ensina.
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