Motoqueiros: Desafio para a Mobilidade e Saúde Pública

Por Geraldo Perelo

O comportamento de boa parte dos motoqueiros nas vias urbanas brasileiras tem se tornado uma questão preocupante que vai além da simples infração de trânsito. Trata-se de um cenário mais amplo, envolvendo negligência ao Código Nacional de Trânsito, desrespeito à sinalização, e, em muitos casos, uma verdadeira cultura de impunidade. Em meio a isso, o que era para ser um meio de transporte ágil e eficiente se torna uma ameaça tanto para os próprios motoqueiros quanto para os demais usuários das vias públicas.

A primeira questão que se coloca ao analisarmos o comportamento dos motoqueiros nas ruas é o flagrante desrespeito ao Código Nacional de Trânsito (CTB). Embora as normas que regulamentam o uso das vias públicas sejam amplamente conhecidas, muitos condutores de motos parecem ignorá-las completamente. Sinalizações, limites de velocidade e proibições de circulação em determinadas áreas são constantemente violados, sem qualquer tipo de fiscalização eficaz.

O exemplo mais claro disso são os motoqueiros que circulam a alta velocidade, não respeitando os limites estabelecidos. Em zonas residenciais ou nas vias mais congestionadas, é comum ver motocicletas acelerando como se estivessem em uma pista de corrida, sem se importar com o risco que isso representa para si próprios e para os pedestres. Além disso, o uso inadequado de calçadas, escadarias e outros espaços não destinados ao tráfego de veículos é uma prática comum entre os motociclistas, que optam por se arriscar e burlar os congestionamentos, sem se preocupar com os riscos de colisão com pedestres ou com a obstrução de áreas de acesso.

Outro ponto crucial é o desrespeito ao uso de equipamentos de segurança, especialmente o capacete. Em diversas regiões, é comum ver motociclistas e seus passageiros circulando sem o devido equipamento, expondo-se a riscos desnecessários. A falta do capacete, além de ser uma infração de trânsito, aumenta exponencialmente as chances de mortes e sequelas em caso de acidente.

O cenário descrito acima tem reflexos diretos em vários aspectos da sociedade brasileira, especialmente no que diz respeito à saúde pública. O aumento exponencial de acidentes envolvendo motociclistas tem levado os hospitais de emergência a se verem congestionados, com uma grande parte das vítimas sendo vítimas de acidentes de trânsito. Esse fato prejudica diretamente o pronto atendimento, pois muitas vezes os recursos médicos ficam sobrecarregados com a quantidade de feridos em acidentes de motos.

De acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), os acidentes de trânsito são responsáveis por uma fatia significativa dos atendimentos nas unidades de emergência. E, dentro desse total, os acidentes com motocicletas têm se mostrado um dos principais causadores de internações. Isso resulta não só em uma sobrecarga nos hospitais, mas também em custos financeiros elevados, tanto para o SUS quanto para os cofres públicos.

Em um contexto de crescente desigualdade social, esse impacto é ainda mais intenso. O SUS, que já enfrenta dificuldades em atender à demanda da população, acaba sendo o principal responsável pelo atendimento dessas vítimas, muitas das quais se envolvem em acidentes devido à imprudência e à falta de respeito pelas normas de trânsito.

O alto número de acidentes com motocicletas também tem implicações econômicas diretas. O custo com os atendimentos médicos, internações e reabilitações é, sem dúvida, elevado. Além disso, os acidentes de moto geram um impacto significativo no trânsito, causando congestionamentos e prejudicando a fluidez das vias. Isso se reflete em perdas econômicas tanto para empresas quanto para o poder público, que precisa investir mais em serviços de emergência e manutenção das vias.

Além disso, a cultura de impunidade entre muitos motociclistas cria um ciclo vicioso. A falta de fiscalização efetiva e a percepção de que o risco de punição é baixo contribuem para que esse comportamento continue sendo adotado. O poder público, por sua vez, se vê constantemente diante de desafios para coibir esse tipo de atitude.

Diante desse cenário, algumas medidas precisam ser adotadas urgentemente para reverter a situação:

  1. Fiscalização mais rigorosa e eficiente: As autoridades de trânsito devem aumentar a fiscalização, utilizando tecnologia (como câmeras e radares) para coibir infrações cometidas por motociclistas. A presença constante de agentes de trânsito em pontos críticos também é uma medida essencial para dissuadir o comportamento imprudente.
  2. Campanhas de conscientização: Além da fiscalização, é necessário intensificar as campanhas educativas. A conscientização sobre os riscos de não usar capacete, de desrespeitar as sinalizações e de trafegar em alta velocidade deve ser permanente, utilizando todas as plataformas possíveis, incluindo redes sociais, escolas e meios de comunicação.
  3. Melhorias na infraestrutura urbana: A criação de faixas exclusivas para motocicletas e a implementação de medidas de segurança nas vias podem ajudar a reduzir os riscos. Investir em infraestrutura que permita o tráfego seguro de motos, sem comprometer a segurança dos pedestres, é fundamental.
  4. Reforço na capacitação dos motociclistas: Exigir que os motociclistas passem por programas de treinamento mais rigorosos, além de exames mais completos, pode ajudar a garantir que eles estejam aptos a dirigir de maneira mais segura e responsável.
  5. Punição rigorosa para infrações graves: As multas e penalidades precisam ser mais severas para quem comete infrações graves, como o não uso do capacete, transitar por calçadas ou escadarias, ou correr em alta velocidade. O rigor nas punições pode funcionar como um desincentivo.

O comportamento irresponsável de muitos motociclistas nas vias urbanas do Brasil é uma realidade que precisa ser enfrentada com urgência. Além de ser um risco para a segurança e bem-estar dos próprios condutores e dos outros usuários das vias, essa imprudência tem gerado um impacto negativo significativo no sistema de saúde pública e na economia do país. Para mudar essa realidade, é fundamental que o governo, as autoridades de trânsito e a sociedade como um todo atuem de forma coordenada, com medidas rigorosas de fiscalização, conscientização e educação no trânsito. Somente com um esforço conjunto será possível reduzir os acidentes e, consequentemente, o custo humano e financeiro que eles geram.