Movimento lança Carta dos Direitos Climáticos em defesa da Rebio Tinguá

Movimento lança Carta dos Direitos Climáticos em defesa da Rebio Tinguá

A Carta reconhece que a saúde humana é inseparável da saúde ambiental, apontando a falta de saneamento básico e o acesso precário à água como as principais injustiças socioambientais da região

Por Geraldo Perelo

O Movimento Pró-Reserva Biológica do Tinguá lançou, nesta quarta-feira (12), a Carta dos Direitos Climáticos da Rebio Tinguá, um documento de 13 páginas que faz um apelo urgente pela preservação da maior reserva biológica do estado do Rio de Janeiro e terceira maior da região Sudeste. O documento, dividido em quatro eixos, reúne imagens da degradação ambiental e propõe ações para enfrentar o atual modelo de desenvolvimento que ameaça o entorno da unidade de conservação.

Jefferson Lopes: o grande desafio é conciliar a proteção ambiental com as demandas sociais

O texto destaca a necessidade de “justiça hídrica” e de uma educação ambiental e patrimonial voltada à realidade local, capaz de envolver a população de forma prática, popular e inclusiva. A Carta também reconhece que a saúde humana é inseparável da saúde ambiental, apontando a falta de saneamento básico e o acesso precário à água como as principais injustiças socioambientais da região.

A Reserva Biológica do Tinguá (Rebio Tinguá) abrange uma área de 26.260 hectares e está localizada nos municípios de Nova Iguaçu e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, além de Petrópolis e Miguel Pereira, na Região Serrana. Criada para proteger ecossistemas da Mata Atlântica, a reserva é fundamental para a manutenção dos recursos hídricos que abastecem o rio Guandu, responsável pelo fornecimento de água para milhões de pessoas na Região Metropolitana do Rio.

De acordo com o jornalista e ambientalista Ricardo Portugal, a carta representa um alerta diante do sucateamento da unidade de conservação. “A Rebio Tinguá está sendo alvo de destruição e desmonte das suas soluções biológicas. Não há número suficiente de fiscais, e isso compromete a proteção de uma área essencial para o equilíbrio climático, geográfico e hídrico da Baixada Fluminense”, afirmou.

Ricardo Portugal: “A Rebio-Tinguá está sendo alvo de destruição e desmonte das suas soluções biológicas”

Para Portugal, o manifesto é uma contribuição dos ambientalistas para aumentar a conscientização sobre a importância da reserva e com isso promover o empoderamento comunitário dos municípios e das populações que vivem no entorno do Rebio Tinguá. “Ela (a reserva biológica) pertence ao povo, que contribui pagando seus impostos para a manutenção da Rebio, enquanto unidade de conservação do Instituto Chico Mendes”, explicou, frisando que “sem a floresta, o povo não tem dignidade, não tem cidadania, não tem água na torneira, não tem ar, não tem oxigênio e não terá regulação climática, ficando refém das enchentes, das secas, do forte calor. Por isso, o bem viver que a carta fala depende da floresta de pé”, deixou claro.

Ainda de acordo com o ambientalistas, o desprezo pelo meio ambiente se deve em razão de a Rebio-Tinguá estar localizada, em grande parte, na Baixada Fluminense, uma região, marcada pela exclusão social, pela violência, pelo abandono, pela fome, pela miséria e pela marginalização.

A educadora popular Adriana Odara Martins, representante do Movimento Negro Unificado e signatária do manifesto, lembrou que as questões relacionadas à reserva “abarcam toda a população fluminense”. Segundo ela, o documento é “um instrumento de alerta que incentiva a sociedade a abrir os olhos para defender o território, uma das salvaguardas da humanidade”.

Adriana Odara: documento é “um instrumento de alerta em defesa de uma das salvaguardas da humanidade”

“A ideia da elaboração do documento é apontar problemas e soluções, mostrar experiências e as demandas para o futuro. Uma das coisas que nós queremos é que as novas gerações não deixem de usufruir de toda essa biodiversidade, esses elementos naturais que a reserva nos dá”., diz Adriana
 

O documento será encaminhado a órgãos nacionais e internacionais ligados à preservação ambiental, como o Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e organizações como o Greenpeace do Brasil, além de fóruns e encontros paralelos à COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

Para o professor e educador popular Jefferson Lopes, o grande desafio é conciliar a proteção ambiental com as demandas sociais das comunidades vizinhas. “Muitas pessoas buscam lazer e sobrevivência dentro da reserva por falta de alternativas. A crise climática tende a agravar esse quadro. É preciso desenvolver o entorno de maneira sustentável, oferecendo outras opções às populações locais”, observou.

O movimento reforça que a Carta dos Direitos Climáticos é uma iniciativa construída por quem vive no entorno da reserva. “Nós, moradores, agricultores, educadores e movimentos sociais, somos os guardiões do cinturão verde da metrópole e da água que abastece milhões. Mas vivemos um paradoxo: guardamos a floresta e sofremos com a falta de saneamento, de dignidade e de reconhecimento”, diz o texto.

Segundo Ricardo Portugal, a carta busca romper o silêncio em torno da reserva e dar visibilidade ao seu papel na regulação climática da Baixada Fluminense e do Grande Rio.

Fotos: Geraldo Perelo e reprodução da Internet