Teatro em Nilópolis reforça o papel da cultura nas cidades periféricas das grandes capitais

Teatro em Nilópolis reforça o papel da cultura nas cidades periféricas das grandes capitais

A construção do novo teatro é a materialização de uma luta simbólica pela preservação e valorização da cultura em territórios historicamente negligenciados pelo poder público.

Por Geraldo Perelo

Ainda impulsionado pelo prestígio da Beija-Flor, maior símbolo cultural de Nilópolis, o município da Baixada Fluminense se prepara para inaugurar, até o fim do ano, um moderno teatro público, marcando um novo capítulo na história das artes na região. O espaço, que está sendo construído ao lado da rodoviária, entre a Avenida Getúlio de Moura e a Rua Frei Ludolf, ocupará uma área de 2.594 metros quadrados. O investimento, estimado entre R$ 12 milhões e R$ 14 milhões, devolve à cidade um equipamento cultural que faltava desde a demolição do antigo Teatro Municipal Jornalista Tim Lopes, em 2013.

Com capacidade para 409 espectadores — incluindo assentos adaptados para pessoas com deficiência e obesidade — o novo teatro será dotado de tecnologia de ponta. Camarins, sistema de iluminação e som de última geração, microfones sem fio, refletores, moving heads, além de motores para movimentação de cenários fazem parte da infraestrutura. O público contará com banheiros acessíveis, biblioteca, espaço para exposições e auditório para 120 pessoas voltado a cursos, simpósios e palestras. O terraço abrigará uma área de convivência com bar e ambiente para happy hour.

Preservação e valorização da cultura

A construção desse novo teatro é mais do que uma obra física: é a materialização de uma luta simbólica pela preservação e valorização da cultura em territórios historicamente negligenciados pelo poder público. Nilópolis, considerada a cidade que mais consome cultura na Baixada Fluminense, viu seu antigo teatro dar lugar à expansão da rodoviária. Desde então, o secretário municipal de Cultura, Antônio Carlos Costa, travou uma longa batalha judicial , ao lado dos prefeitos Farid Abrão, falecido em 2020, e do atual prefeito Abraão David Neto, o Abraãozinho, para reaver o terreno — e venceu.

Formado em Filosofia e Teologia, fluente em alemão e francês, com passagens por instituições de ensino na Alemanha, Costa atua na Secretaria de Cultura desde 1999 e é um incansável defensor da arte popular. Durante o período sem teatro, investiu na criação da Usina de Cultura Tim Lopes, no bairro Manoel Reis, além de fomentar projetos, como o Espaço Cultural Ong Raydi, que oferece cursos gratuitos de dança, teatro, percussão e outros.

Secretário Antônio Costa: “Precisamos formar pessoas mais críticas, participativas e conscientes do ambiente em que vivem“.

Foi desses ambientes que surgiram nomes hoje reconhecidos nacionalmente, como a atriz Jéssica Sodré (“Senhora do Destino”), o comediante Bruno Matos (a “Blogueirinha”) e a atriz Mell Muzzillo (a Ritinha da novela “Renascer”).

Apesar do talento local, Costa explica que Nilópolis não mantém uma “cena cultural” no sentido tradicional. “Não bancamos grupos ou companhias. Investimos integralmente em escolas de formação artística — música, balé clássico, artes plásticas e teatro. A prioridade é formar artistas”, afirma.

A visão do secretário vai além do palco: ele defende que a cultura é o primeiro degrau na formação do cidadão. “Sem cultura, não há transformação social verdadeira. Precisamos formar pessoas mais críticas, participativas e conscientes do ambiente em que vivem”, destaca.

Para isso, o novo teatro adotará política de acessibilidade social, permitindo que o público de baixa renda possa assistir aos espetáculos mediante a doação de alimentos não perecíveis. “A Baixada Fluminense sempre esteve distante dos grandes espetáculos do Rio de Janeiro. Os altos preços dos ingressos, a distância, o custo do transporte e a insegurança afastam nosso povo desse direito”, pontua Costa.

Além de ser um centro de entretenimento, o teatro será também uma ferramenta de inclusão e cidadania. “Queremos que as pessoas se reconheçam nesse espaço. Ao participar de uma peça, elas passam a entender melhor a sociedade em que vivem — e, com isso, têm mais instrumentos para transformá-la”, resume.

Nilópolis dá um passo importante na consolidação de uma política cultural voltada à formação, à democratização do acesso e ao fortalecimento da identidade local. Mais do que um edifício moderno, o novo teatro representa o renascimento de um projeto cultural e político para a cidade — e um exemplo para outras regiões periféricas do país.

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