No Dia da Mulher Negra, Tribunal de Justiça do Rio amplia iniciativas

No Dia da Mulher Negra, Tribunal de Justiça do Rio amplia iniciativas

TJRJ expande atribuições de grupo de trabalho para mulheres negras e inicia distribuição do Protocolo para Julgamento com Perspectiva Racial

Combater os estereótipos na cultura e na comunicação, através da formação continuada em direitos humanos, equidade racial e enfrentamento ao racismo institucional; capacitar servidores e magistrados em gênero, raça e etnia; e propor ações, projetos e políticas públicas voltadas para essas questões no âmbito do Judiciário fluminense.

Essas são algumas das novas atribuições do Grupo de Trabalho Mulheres Negras e Interseccionalidades, anunciadas nesta sexta-feira, dia 25 de julho, data em que se comemora o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e, também, o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

Ainda em alusão às datas comemorativas, o TJRJ iniciou, nesta sexta-feira, a distribuição da versão impressa do Protocolo para Julgamento com Perspectiva Racial, produzido pelo Conselho Nacional de Justiça, para todas as magistradas e magistrados do Judiciário fluminense.

O Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha foi instituído em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Negras da região, realizado na República Dominicana. No Brasil, a data foi criada pela Lei nº 12.987/2014, quando também foi criado o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, reconhecendo o protagonismo de uma das mais importantes lideranças quilombolas da história do país, que comandou por mais de 20 anos o Quilombo do Quariterê, no atual estado do Mato Grosso.

Grupo de Trabalho Mulheres Negras e Interseccionalidades

Instituído em outubro de 2022, o “Grupo de Trabalho para o desenvolvimento de ações e políticas voltadas para mulheres negras” recebeu a nova denominação, “GT-Mulheres Negras e Interseccionalidades”, estabelecida pelo Ato Executivo 144/2025, assinado pelo presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, desembargador Ricardo Couto de Castro.

“A ampliação das atribuições do GT-Mulheres Negras e Interseccionalidades se faz necessária em razão da urgência de intensificar as ações no combate à discriminação racial e assegurar a igualdade de direitos e liberdades fundamentais. Atende, também, ao compromisso do Poder Judiciário com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, especialmente os referentes à igualdade de gênero, redução das desigualdades e igualdade étnico-racial”, destacou o desembargador Ricardo Couto de Castro.

A coordenadora da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar, desembargadora Adriana Ramos de Mello, considera fundamental a atuação cada vez mais ampla do GT no combate à violência e desigualdades enfrentadas pelas mulheres negras.

“É superimportante esse GT-Mulheres Negras e Interseccionalidades porque estamos observando um aumento muito grande de violência contra mulheres negras. De acordo com dados divulgados, hoje, 63,6% dos feminicídios foram praticados contra mulheres negras. Chegou a hora da gente trabalhar e fortalecer a Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres Negras, para ter essa abordagem interseccional das políticas públicas e também desenvolver um trabalho de formação e capacitação de toda a rede para o acolhimento e atendimento dessas mulheres nas áreas da saúde, educação, mas, sobretudo, no seu direito de acesso à Justiça”, afirmou a desembargadora Adriana Mello.

Membra da Coem, a juíza Katia Cilene Bugarin avaliou como emblemático o anúncio da ampliação das atribuições do GT-Mulheres Negras e Interseccionalidades no Dia da Mulher negra Latino-Americana e Caribenha.

“As mulheres negras ocupam as piores posições nos indicadores de desenvolvimento. São as principais vítimas da violência de gênero, têm a menor renda, as taxas de subemprego e desemprego são elevadas em relação a outros grupos. Não podemos normalizar essas desigualdades. E necessário um olhar específico para esta população. O GT tem esse papel fundamental e desafiador. Uma missão que é também de todos nós”, considerou.

A juíza Katia Cilene Bugarin destacou a importância de políticas específicas para mulheres negras e a ampliação das atribuições do GT-Mulheres Negras e Interseccionalidades.

Gestora pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro do Pacto Nacional do Judiciário pela Equidade Racial, a juíza Leidejane Chieza destacou a importância das duas ações anunciadas pelo TJRJ no Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.

“A representatividade importa – e no Judiciário ela é urgente. O GT-Mulheres Negras e Interseccionalidades e o Protocolo do CNJ são instrumentos fundamentais para assegurar que a diversidade dos nossos corpos e vivências se reflita na construção de uma jurisdição mais democrática e sensível às desigualdades estruturais.”

A assistente social da Coem Soyanni Silva Alves comemorou a ampliação da atribuições do GT-Mulheres Negras e Interseccionalidades.

“Com essa nova configuração, o GT reforça o compromisso do Tribunal de Justiça do Rio com uma atuação mais inclusiva, interseccional e alinhada aos princípios constitucionais de igualdade e dignidade da pessoa humana, contribuindo para a construção de um sistema de justiça mais justo e acessível para todas e todos”, avaliou.

A assistente social Soyanni Silva Alves ressaltou o papel do GT na construção de uma Justiça mais inclusiva, interseccional e acessível.

Protocolo para Julgamento com Perspectiva Racial

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, também como atividade comemorativa ao Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e ao Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, inicia, nesta sexta-feira (25/7), a distribuição da versão impressa do Protocolo para Julgamento com Perspectiva Racial, para todos os gabinetes das magistradas e magistrados de 1º e 2º graus. 

Lançado no final de 2024 para consulta digital pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o protocolo traz uma série de recomendações voltadas para a atuação de magistradas e magistrados, a fim de que as questões raciais sejam incorporadas e consideradas nos julgamentos.

“O Protocolo para Julgamento com Perspectiva Racial é um instrumento importante para o magistrado colocar em sua bagagem, para ele aplicar e reconhecer que na estrutura social há diferenças que fazem com que certos grupos fiquem em desvantagem social. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, seguindo a orientação do Conselho Nacional de Justiça, já tinha disponibilizado em sua página na internet, de forma digital esse protocolo. Agora vamos distribuir o documento físico para todos os gabinetes”, ressaltou o presidente do TJRJ, Ricardo Couto de Castro.

Para o presidente do Comitê de Promoção de Igualdade de Gênero e de Prevenção e Enfrentamento dos Assédios Moral e Sexual e da Discriminação no 1° Grau de Jurisdição (COGEN – 1° GRAU), desembargador Wagner Cinelli, o envio do documento físico objetiva aprofundar o entendimento dos magistrados em relação ao protocolo.

“O encaminhamento, pelo presidente do TJRJ, para cada magistrado e magistrada, do protocolo físico, é muito importante porque reafirma a relevância desse documento. É mais um convite para que o magistrado leia e mergulhe no conteúdo do protocolo, tornando-se fundamental para a compreensão mais abrangente dessas diferenças sociais, que contribui para que possamos julgar da melhor forma possível.”

A presidente do COGEN – 2° GRAU, desembargadora Patrícia Serra, acrescentou: “O protocolo é muito relevante, inclusive, para que se possa estimular uma política pública mais avançada para fazer essa interseção de uma política racial adequada com outras áreas que envolvem a política pública mais abrangente, como a sexualidade, saúde, educação e tantas outras que são sensíveis a todas as pessoas”.

Fotos: Brunno Dantas/TJRJ