Câmara Municipal de Itaguaí apura denúncia que aponta irregularidade em contrato para limpeza de rios na cidade

Câmara Municipal de Itaguaí apura denúncia que aponta irregularidade em contrato para limpeza de rios na cidade

Haroldo Jesus parabenizou os vereadores “pela postura” diante do recebimento da denúncia e explicou que votou favoravelmente por entender a importância da apuração dos fatos.

A Câmara de vereadores de Itaguaí aprovou, nesta quinta-feira (3), por maioria simples, a admissibilidade de uma denúncia protocolada por uma cidadã do município, que aponta possível infração político-administrativa por parte do chefe do Poder Executivo. A partir da decisão, foi instaurada a Comissão Processante 001/2025 para conduzir as investigações.

A denúncia foi apresentada pela eleitora Sueli Pereira da Costa. O documento traz questionamentos sobre o processo licitatório nº 6.973/2021, referente ao Pregão Eletrônico nº 104/2021, cujo objeto era a contratação de empresa especializada para execução de serviços de limpeza, desassoreamento de córregos, valas e canais, além da estabilização de taludes em diversos pontos da cidade. O contrato, sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Obras e Urbanismo, teria vigência de seis meses e passou por sucessivos aditivos.

Segundo a denunciante, a empresa L.A. Brasil Locações de Máquinas Ltda. foi vencedora do certame, celebrando o contrato administrativo nº 250/2021. Contudo, a denúncia alega que foram realizados pagamentos pela prefeitura sem a efetiva prestação dos serviços contratados, citando, como exemplos, a ausência de obras nos bairros Chaperó e Teixeira, onde supostamente não há indícios visíveis das intervenções previstas.

Análise jurídica e admissibilidade

A denúncia foi encaminhada à Procuradoria Geral da Câmara, que, por meio de parecer técnico assinado pelo procurador Carlos André Franco, concluiu pela admissibilidade da denúncia, observando que “o documento está formalmente assinado e acompanhado da devida comprovação de condição de eleitor; apresenta narrativa clara e detalhada dos fatos e está instruído com documentos que justificam a análise inicial da Câmara”. O parecer destacou ainda que a admissibilidade não implica em juízo de valor sobre o mérito da denúncia, limitando-se à verificação da sua regularidade formal e da existência de justa causa para seu recebimento.

Votação e recebimento

Após a leitura em plenário, a denúncia foi colocada em votação nominal. Os vereadores Nando Rodrigues (PDT), Agenor Teixeira (Solidariedade), Adilson Pimpo (PP), Guilherme Farias (PODE), Fabinho Taciano (PP) e Rachel Secundo (PODE) votaram favoravelmente ao seu recebimento. A vereadora Paty Bumerangue (PODE), presente de forma remota, se manifestou a favor do recebimento da denúncia, embora não tenha votado e declarado suspeição por motivos pessoais. O presidente Haroldo Jesus (PDT), conforme determina o Regimento Interno, não vota, exceto em caso de empate.

Comissão Processante 001/2025

Na mesma sessão, foram realizados os trâmites para a instauração da Comissão Processante 001/2025, com sorteio público dos membros pelos servidores efetivos da Câmara. Foram sorteados os vereadores Fabinho Taciano, Adilson Pimpo e Nando Rodrigues.

Criação de CPI

O presidente da Câmara Municipal, vereador Haroldo Jesus (PDT), manifestou apoio ao recebimento da denúncia contra o chefe do Executivo e anunciou que apresentará à Mesa da Casa requerimento para instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), “com o objetivo de investigar possíveis irregularidades na contratação de empresa para a gestão da UPA”.

Haroldo Jesus parabenizou os vereadores “pela postura” diante do recebimento da denúncia e explicou que votou favoravelmente por entender a importância da apuração dos fatos. Segundo ele, durante o período em que esteve à frente da Prefeitura, também teve acesso a processos internos que agora se tornam objeto de fiscalização do Legislativo:

“Por estar na Prefeitura por cinco meses e meio, tomei ciência de diversos contratos, entre eles um que já havia passado por oito aditivos antes de janeiro, somando mais de R$ 70 milhões. Após meu retorno à Câmara, constatei a continuidade desses contratos, com novos aditivos e possível execução parcial das obras.”

O presidente destacou ainda que, segundo informações da própria denúncia, há indícios de que apenas R$ 1 milhão foi efetivamente executado em uma obra cujo contrato aditivado ultrapassou R$ 7 milhões.

Contrato emergencial da UPA

O presidente Haroldo Jesus também chamou a atenção para o recente contrato emergencial de R$ 22 milhões firmado com uma organização social para a gestão da UPA de Itaguaí. Segundo ele, há indícios que as duas únicas empresas previamente qualificadas, seriam ligadas. O vereador apontou uma série de irregularidades no processo de qualificação da entidade escolhida para a gestão da saúde, como ausência de publicação da lista completa de entidades participantes, falta de justificativas técnicas para desclassificações, omissão da participação do Conselho Municipal de Saúde e falta de publicidade de atas e documentos da comissão de avaliação.

“A população precisa saber o que está sendo feito com o dinheiro público”, afirmou o presidente, ao defender a abertura da CPI, que já conta com o apoio de outros parlamentares.

Defesa da vida e do serviço público

Haroldo alertou que que a função da Câmara é prevenir danos, fiscalizar com antecedência e impedir o mau uso do dinheiro público. “Não posso esperar que erros sejam cometidos para então denunciar. Estamos tratando de vidas. Uma UPA fechada por dois ou três dias pode custar vidas. A cidade está com o hospital em obra e a população sem atendimento. Isso é uma calamidade”,

O presidente da Câmara relatou ainda ter recebido ameaças. “Não tenho medo de ameaças. Não tenho rabo preso e não vou recuar diante da minha missão como vereador. Estamos aqui para representar o povo, e é isso que farei até o último dia do meu mandato.”

Haroldo concluiu reforçando que seguirá atuando ao lado das comissões e demais vereadores em defesa do interesse público e da transparência na gestão municipal.